Narrar histórias é mais do relatar eventos; é uma maneira de reivindicar espaço, de se fazer presente em um mundo que muitas vezes tenta nos apagar. Especialmente para a comunidade LGBT, contar suas próprias histórias tem sido um ato de resistência e cura. É através dessas narrativas que nos conectamos com nossas raízes, entendemos nossas lutas e celebramos nossas vitórias, mesmo assim, histórias só ganham vida quando são consumidas, e infelizmente por muito tempo não tivemos plateia. Hoje, depois de tanto tempo invisibilizados, estamos recuperando a voz e contando para cada vez mais pessoas que nossa história importa.
A série “Tenho que morrer todas as noites”, baseada no livro de mesmo nome e disponível no Prime Video, é um exemplo de como o ato de contar histórias pode transformar vidas. Ambientada na Cidade do México dos anos 80, a série mergulha na cena underground e acompanha a vida de Guillermo, um jovem gay ainda no armário que acaba de entrar na universidade, e enxerga ali a liberdade pra ser quem sempre quis. Essa nova vida o apresenta a diversidade da comunidade LGBT em um período marcado pela repressão, pelo surgimento da epidemia de AIDS e pela forte cena cultural.
A transformação de Guillermo é o grande condutor dessa história; ela é motivada por duas paixões, os sentimentos pelo DJ Blass e o entusiasmo pelo jornalismo. A produção revela como, em meio à dor e ao medo, surgiram movimentos de solidariedade que moldaram a cultura da época e deram origem a uma nova forma de se enxergar e viver a identidade LGBT. A série é uma jornada pessoal e coletiva, onde contar histórias, independente do meio, se torna uma forma de imortalizar uma luta e de encontrar sentido em meio ao caos.
A série nos faz refletir que muitas vezes é preciso coragem para assumir o controle da nossa própria história. Falar de quem somos com todos nossos vícios e virtudes pode ser um processo doloroso, mas é ressignificando essa dor que nos tornamos mais fortes. Pra renascer todas as manhãs, temos que morrer todas as noites. Contar nossas histórias é uma maneira de curar as feridas do passado e construir um futuro em que possamos existir, muito mais do que resistir.
Comments